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Por Que a Gastronomia Brasileira Está Sendo Redefinida: A Importância de Estudar Através dos Biomas

Por muitos anos, ao estudar a rica e diversa culinária brasileira, o foco sempre esteve nas clássicas regiões geográficas ou políticas do país: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Essa abordagem fazia sentido, afinal, as regiões foram agrupadas por características culturais e históricas semelhantes, e a gastronomia é inegavelmente um dos pilares da cultura de um povo.

No entanto, nos últimos anos, houve uma mudança crucial na maneira como os especialistas e estudantes de gastronomia analisam a nossa cozinha. O foco migrou das regiões geográficas para os biomas brasileiros. Mas por que essa mudança e qual o impacto real para o entendimento da nossa culinária?

O Tripé Cultural e a Base da Terra

Para entender a gastronomia brasileira, é fundamental reconhecer o que o vídeo chama de "tripé cultural":

  1. Cultura Indígena (Originária): A que já existia no território.

  2. Cultura Europeia: Trazida pelos colonizadores.

  3. Cultura Africana: Trazida pelos escravizados.

Cada região foi influenciada de maneiras diferentes por esse tripé. Contudo, o ponto-chave da nova abordagem é que, na base desse tripé, encontra-se o ingrediente natural que já existia na Terra.

Quando os colonizadores chegaram, eles não puderam, de imediato, plantar todos os produtos de suas terras natais. Eles precisaram se adaptar e utilizar aquilo que já existia no local . É por isso que, para um estudo profundo da culinária de raiz, faz muito mais sentido olhar para o ecossistema natural — o bioma — do que para as fronteiras políticas.

A Divisão em Biomas: A "Gastronomia da Terra"

O foco nos biomas nos permite mergulhar na "gastronomia da Terra", aquela cozinha que é ditada pelos ingredientes nativos e que difere da gastronomia popular (como coxinha, feijoada e churrasco, que são construções culturais mais amplas).

O Brasil possui seis grandes biomas, e cada um oferece um vasto e único conjunto de insumos:

  • Bioma Amazônico: Localizado ao Norte, é o grande berço da biodiversidade brasileira.

  • Caatinga: O maior bioma no Nordeste, caracterizado pelo clima semiárido.

  • Mata Atlântica: Abrange a costa, incluindo parte do litoral Nordestino.

  • Cerrado: Um bioma de transição no Centro do Brasil, semi-seco, que se conecta com quase todos os outros biomas.

  • Pantanal: Uma região específica no Centro-Oeste, conhecida por suas características alagadas.

  • Pampas: Localizado no Sul, especialmente no Rio Grande do Sul.

A Redescoberta dos Ingredientes Nativos

Um dos maiores benefícios de estudar por biomas é a distinção entre o que é amplamente consumido e o que é, de fato, originário do Brasil. Muitos ingredientes que consideramos brasileiros (como coco e manga) foram trazidos pelos colonizadores.

O foco na terra nos leva a redescobrir e valorizar as frutas e insumos verdadeiramente nativos, muitos deles pouco conhecidos pelo grande público e pouco utilizados nos restaurantes de alta gastronomia, como o butiá, o buriti ou o cupuaçu.

A ascensão desses produtos da terra nas grandes cozinhas é um movimento relativamente moderno,
 impulsionado pela busca por uma cozinha mais autêntica e conectada às raízes do território.

Em resumo, a mudança para o estudo por biomas não anula a importância das regiões, mas a complementa. Ela permite uma compreensão mais profunda e fundamental de como o ecossistema e os ingredientes naturais moldaram a identidade culinária de cada canto do nosso país, garantindo um futuro mais autêntico e sustentável para a gastronomia brasileira.


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