Sentado no gramado da minha casa vejo a montanha que me
cerca gritar. Gritar desesperadamente por água. Gritar desesperadamente por
consciência. Vejo os animais correrem desesperados, tentando se esconder, sem
rumo. Eles pedem para serem deixados em paz. Por acaso alguém já viu um
tamanduá botar fogo numa casa? O fogo passa como o vento, junto ao vento. Estou
muito longe e ouço como se o fogo cantasse ao meu lado. Alto e interminável.
Dois dias de destruição. Se ele começou com um objetivo, com
certeza foi cumprido. A paisagem que fica lembra o fim do mundo. Sujo. Tóxico.
Tocos de árvores, restos de arames retorcidos, animais mortos. Inabitável. O
cheiro de destruição, a ardência nos olhos a fuligem que cai como neve negra. Suja
a alma dos seres humanos, mais do que suja nossas roupas no varal.
Quanta ignorância nas terras da experiência.
Vejo no jornal, que não é só Monte Alegre que queima. É o
Brasil inteiro. Levando embora os últimos pedaços de floresta do mundo. Levando
embora o resto da consciência que nós seres racionais temos. Uma vergonha.
Quando vamos aprender a gerir nossos projetos de forma sustentável, sem agredir
o meio ambiente? É assustador pensar que essa possibilidade pode estar longe.
Muitos dizem que esse papo é careta, mas é verídico.
Enquanto queimarmos sem pensar nas conseqüências. Enquanto trocarmos de celular uma vez a cada
seis, sem pensar onde dispensar o velho. Enquanto descartamos o lixo como lixo.
Deixaremos nossas matas queimarem e iremos cada vez mais nos enterrarmos nessa
nuvem negra de fumaça e dejetos humanos até o dia em que estaremos imóveis sem
ter como voltar atrás, sem solução. Ainda há tempo.
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