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Café no mundo – Parte II




           A nova bebida se encaixou perfeitamente aos preceitos do Alcorão. Que condena o uso de bebidas alcoólicas. Surge assim o habito de se tomar café em família e entre amigos. Os principais adeptos da nova cultura foram os filósofos, artistas e sábios que se aproveitavam do fator estimulante proporcionado pela bebida, para prolongarem seus retiros espirituais. E foi na região onde hoje se situa a Turquia que o ‘’habito do cafezinho’’ se concretizou e se tornou num ritual de sociabilidade. Então surge, em 1475, a primeira casa especializada em cafés do mundo. Situada em Constantinopla, capital do Império Otomano (atual Turquia). Seu nome era Kiva Han
            Em 1574 os cafés do Cairo (Egito) e de Meca (Islã) eram as cafeterias mais procuradas do oriente, sobretudo por artistas e poetas que se encontravam para discutir as novas tendências da época. Uma curiosidade passada no antigo Império Otomano e que o café foi incorporado ate em sua legislação. Portanto uma esposa poderia pedir o divorcio se seu marido não conseguisse manter a cota de café prevista para sua cozinha.
            As casas de café eram consideradas pontos de encontro da alta sociedade. Proporcionava um ar de celebração e liberação das emoções daquele momento, fato este que se deve a propriedade estimulante, que hoje sabemos que é a cafeína, que a bebida apresentava. Conta-se que nesta época, só em Constantinopla existiam mais de mil estabelecimentos que vendiam o café das mais diversas formas.
            No ocidente algumas barreiras ainda tinham de ser quebradas. A principal era a igreja católica que não aprovava o uso desta nova bebida. Mas com o passar das décadas o habito tornou-se mais forte do que a doutrina religiosa, tornando o café um complemento do estilo de vida europeu. Começando na Inglaterra onde o primeiro café tem origens gregas e tinha o nome de Pasqua Roseé. Marcando assim o inicio das coffehouses. Estes estabelecimentos, assim como no oriente, eram pontos de encontro de artistas, músicos e nobres que se reuniam em volta de uma bela xícara de café para discutirem as tendências e o futuro da Inglaterra.
    “[...] Zelosos da saúde e da bolsa, os
londrinos não gostavam de reunir-se em tabernas, mas começaram a
freqüentar os Cafés, porque uma xícara desta bebida, recentemente
importada da Turquia, custava apenas um penny e acreditava-se que curasse
males ligeiros”.
sem autor
            Mas as casas de café tiveram dias contados na Inglaterra, pois as colônias inglesas produziam muitos chás, provocando uma mutação no paladar inglês. Mas felizmente o habito do café não migrou somente para as terras da rainha. A França teve e tem um papel muito importante na proliferação deste habito que mais tarde transformaria o Brasil no principal polo produtor da pequena frutinha vermelha.  A fama dos charmosos cafés parisienses vigora ate os dias atuais. Há registros de que em 1720 havia mais de 380 estabelecimentos para venda da bebida e ao final do mesmo século já se contavam mais de 900. Entre eles esta o café mais famoso e mais antigo ainda em atividade. Café Procope, fundado em 1688 leva o nome do dono e atualmente funciona como restaurante. O estabelecimento resgata a cultura do contexto de seu surgimento, com quadros e moveis da época. Fazem uma releitura dos cardápios da época. Contudo a historia do café na França não começa em paris, mas em Marselha, aonde a bebida chegou por volta de 1644. Foi nas terras de Napoleão que se iniciou a tematização desses estabelecimentos. Alguns eram destinados a estrangeiros, outros a pintores, aqueles eram para políticos, aquele ali a diante era para fazendeiros, e assim por diante.
            Na Itália o café chegou com certa rejeição pela burguesia e nobreza. Diferentemente dos seus vizinhos europeus na Itália o café era vendido por ambulantes, que substituíram as limonadas e as infusões de ervas pela nova bebida recém-chegada do oriente. Assim constata-se que neste país a bebida tinha um foro plebeu e não era bem aceito pelos nobres. Conceito este que não vigorou por muito tempo, pois em 1683 instala-se na Piazza San Marcos a primeira cafeteria destinada às classes mais abastadas. E na mesma praça, através do empresário Floriano Francescari nasce a idéia do café Florian que é o mais famoso e o mais antigo em funcionamento da Itália.
            A partir desse momento o café só expandiu fronteiras. Principalmente após a invenção da cafeteira, pelas mãos do francês Descroisilles em 1802. Não passou de um protótipo. Em 1905 os italianos passaram a comercializar a primeira cafeteira em grande escala. Mas somente após a segunda guerra mundial é que este invento se tornou viável e tomou o lugar dos velhos coadores de pano.
            CAFÉ. Palavra forte, assim como a bebida que inspira artistas, gastrônomos e simpatizantes. Que junta amores, famílias e inimigos. Bebida que trouxe o progresso a diferentes nações e que foi a base de grandes revoluções. Alimento que nasce da terra e deixou muitos calos nas mãos dos negros africanos no Brasil. Fruto que acompanhou a humanidade e se transformou numa extensão do próprio homo sapiens, pois hoje tomamos café sem nos dar conta de que ele esta ali. Uma casa sem café não pode ser considerada uma casa normal.
            E para finalizar uma citação de Balzac que era um assíduo freqüentador do Café Procope em Paris.
“O café cai-nos no estômago e há imediatamente
uma comoção geral. As idéias começam a mover-se como os batalhões do
Grande Exército no terreno onde a batalha ocorre. As coisas que recordamos
surgem a todo o galope, de estandarte ao vento.”
Balzac

Pedro Ramos
Chef e Consultor da PHX Consultoria

Tel: +55 (19) 996 646 572

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